Thursday, January 04, 2007

Agnus Sei

Agnus Sei

Elis Regina
Composição: João Bosco/Aldir Blanc

Faces sob o sol, os olhos na cruz
Os heróis do bem prosseguem na brisa da manhã
Vão levar ao reino dos minaretes a paz na ponta dos arietes
A conversão para os infiéis
Para trás ficou a marca da cruz
Na fumaça negra vinda na brisa da manhã
Ah, como é difícil tornar-se herói
Só quem tentou sabe como dói vencer Satã só com orações
Ê andá pa Catarandá que Deus tudo vê
Ê andá pa Catarandá que
Deus tudo vê
Ê anda, ê ora, ê manda, ê mata, responderei não!
Dominus dominium juros além
Todos esses anos agnus sei que sou também
Mas ovelha negra me desgarrei, o meu pastor não sabe que eu sei
Da arma oculta na sua mão
Meu profano amor eu prefiro assim
À nudez sem véus diante da Santa-I
nquisição
Ah, o tribunal não recordará dos fugitivos de Shangri-
LáO tempo vence toda a ilusão
*
É difícil explicar esta música e entendo ela um pouco a meu modo.
Não sei exatamente a história desta canção. Ela se encaixa muito bem nesta época em que vivemos em que apesar da globalização existe muita hipocrisia, em que obrigam as pessoas de bem a andarem "mascaradas" (sentido metafórico) e envoltas em véu para que a verdade não se revele ou teremos vítimas inúteis de um sistema corruptor/corrompido em série e em doses homeopáticas imperceptíveis. Dai um certo obscurantismo medieval que persiste quando muita tirania precisa ser vencida e por nós os "infieis". Hoje você pode combinar alguma coisa num contrato verbal e ser realizado exatamente o oposto por vontade de uma das partes,( e no contrato escrito é que a gente mais se "rala" mesmo) o poderoso e fica difícil lutar contra isso pelos meios legais, quanto mais por meios ilegais. Hoje a gente muitas vezes precisa fingir que alguém completamente desonesto é honesto para não cometer um crime contra honra por exemplo e fazer esforço enorme para não obedecer a esse mesmo sujeito. Hoje em muitas vezes é preciso abafar um grito no travesseiro quando se sabe que isso não vem de hoje. E o cordeiro imolado é uma pessoa simples, tentado permanecer em seu íntimo pura e incorruptível, conseguindo sempre ou não, com forças heróicas, sobre-humanas. O não pode ser proferido com a desculpa, a mentira, a evasiva...E vem aquela vontade de que todas as verdades apareçam enquanto estivermos vivos e aquela vontade de que todas as máscaras dos impostores caiam, sendo esta uma "esperança equilibrista" que se apresenta muitas vezes em forma de angústia e sensação de injustiça quando os valores sociais precisam ser mais do que nunca coletivamente reconstruidos. Talvez você, que está lendo tenha muito a acrescentar sobre esta impressão particular desta música, da qual eu não me lembrava ou não conhecia mesmo até a poucos dias. Que bom se ela falasse dos anos da ditadura apenas, mas ela fala também do momento atual, o homem das luzes e das sombras desta nossa vida.


Veja e sinta!


De otimista eu gostaria de dizer que vivemos um processo histórico e estamos todos aprendendo.